O Balanço Energético Sintético relativo ao ano2024 foi publicado em junho pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), no qual se destaca um dado particularmente importante – a dependência energética do país face ao exterior registou o valor mais baixo de sempre (64,1%) e inferior à meta de 65% estabelecida no PNEC[i].
Necessidades energéticas
Os recursos energéticos endógenos de Portugal são quase na sua totalidade de origem renovável, com base no aproveitamento solar, vento, água e biomassa. Contudo, a capacidade de produção destas fontes de energia não é suficiente para suprir as necessidades energéticas do país, por isso recorremos às importações de combustíveis fósseis, nomeadamente do petróleo, gás natural e carvão. Esta última fonte é praticamente inexistente devido ao encerramento das centrais termoelétricas para a produção de eletricidade.
Durante décadas, a economia nacional assentou num grande consumo de combustíveis fósseis, gerando maior dependência energética e elevadas emissões de gases com efeito de estufa (GEE) – estávamos na era da “economia carbonizada”. Em 2005, Portugal atingia o valor máximo da dependência energética (88,8%) desde que há registo. Passados dezanove anos, alcançou-se o valor mínimo (64,1%), uma queda de 24,7 p.p.
Evolução da dependência energética
Trajetória da dependência energética nos últimos 6 anos (Figura 1).
![Dependência energética [2019 - 2024]. Dependência energética [2019 - 2024].](https://cld.pt/dl/download/328cd7f0-4cba-4d1d-b85f-39e53a4b5ba1/grafico-dependancia-energetica.webp)
No ano da pandemia (2020), Portugal atingia o valor mais baixo da dependência energética até à data, como resultado da paralisação de quase toda a atividade económica. A questão colocada era saber qual seria o comportamento deste indicador com a recuperação/retoma gradual da economia. Voltaríamos a ter valores da dependência energética idênticos aos registados antes da pandemia, ou conseguiríamos manter, e desejavelmente diminuir, o registo record alcançado em 2020, mas num contexto de economia normalizada?
Os dados são esclarecedores. Com a retoma da economia e até 2022, confirmou-se o pior cenário, o crescimento contínuo da dependência energética. Contudo, a partir desse ano até à atualidade, registou-se uma diminuição notável na trajetória da dependência energética, com uma redução 7,1 p.p. em dois anos.
O que contribuiu para a redução da dependência energética
Portugal continua a depender das importações de petróleo e de gás natural. Então, o que ocorreu? Na Tabela 1 encontram-se os valores das importações, exportações e saldo importador relativos a 2020 e 2024 para os combustíveis previamente citados, e o total agregado.

No que respeita ao petróleo e derivados, o saldo importador agravou-se significativamente face a 2020 (+11,5%). Dado que grande parte dos produtos petrolíferos são destinados ao setor dos transportes, sobretudo ao rodoviário, o mais afetado na pandemia devido às fortes restrições à circulação, num contexto de relançamento e de normalização da atividade económica, o agravamento era expectável.
Este setor, em particular na sua componente rodoviária, continua a ser crítico, mantendo-se elevado o nível de importações e consequentes dificuldades de descarbonização.
Quanto ao gás natural, os dados são claros. Houve uma redução de 39,5% nas importações, o que significa que foi este o combustível que mais contribuiu para a redução da dependência energética de Portugal, atenuando, e muito, o impacto negativo do saldo importador dos produtos de petróleo e derivados. O seu efeito no cumulativo dos dois produtos energéticos foi de tal ordem que levou a uma queda do saldo importador em cerca de 6,5% face a 2020 (ano do melhor registo da dependência energética), ficando abaixo da própria meta 65% estabelecida para 2030.
Sobre o gás natural, é importante conhecermos a trajetória das importações relativamente aos anos mais recentes. De acordo com a Figura 2, com exceção de 2022, assiste-se a uma diminuição contínua das importações.
[i] Plano Nacional de Energia e Clima 2030
António Almeida,
Técnico Especialista da Direção de Formação, Informação e Educação na ADENE
ADENE – Agência para a Energia
Tel.: +351 214 722 800 · Fax: +351 214 722 898
geral@adene.pt · www.adene.pt
Para ler o artigo completo faça a subscrição da revista e obtenha gratuitamente o link de download da “renováveis magazine” nº63. Pode também solicitar apenas este artigo através do email: a.pereira@cie-comunicacao.pt
Outros artigos relacionados
- Artigo “Energia solar e Comunidades de Energia: o novo panorama energético em Portugal” da edição 61 da Renováveis Magazine;
- Artigo “o futuro da energia renovável em Portugal está cada vez mais próximo” presente na Renováveis Magazine;

