As energias renováveis têm tido expressivo desenvolvimento nos últimos 22 anos, com 2023 a apresentar uma taxa de crescimento mais rápida das últimas duas décadas a nível mundial. Este crescimento tem oferecido oportunidades substanciais de emprego em áreas como instalação e manutenção de infraestruturas de energia de fontes renováveis, desenvolvimento de tecnologias e consultoria especializada em energia sustentável. Contudo, há uma falta de profissionais disponíveis neste setor, o que pode diminuir o ritmo da transição energética.

De acordo com o relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), World Energy Employment 2023, o emprego no setor energético global atingiu quase 67 milhões em 2022, sendo 35 milhões dos setores de energias limpas e 32 milhões relativos aos combustíveis fósseis. A maioria dos empregos criados entre 2019 e 2022 foram no setor das energias limpas (4,7 milhões), em contraposição ao setor de combustíveis fósseis que perdeu certa de 1,3 milhões de postos de trabalho no mesmo período. Outro facto notável é que mais de metade do crescimento do emprego neste período podem ser atribuídos a apenas cinco setores: energia solar fotovoltaica, energia eólica, veículos eléctricos (VE) e fabrico de baterias, bombas de calor e exploração e refinação de minerais críticos. Estes cinco setores empregam hoje cerca de 9 milhões de trabalhadores.

Embora as oportunidades de emprego na transição energética sejam vastas, existem desafios e lacunas significativas em termos de habilitações necessárias e formação adequada. Em muitos casos, o setor da energia compete diretamente nos recursos humanos com outras indústrias, graças à alta qualificação dos seus trabalhadores. No setor da energia, 36% dos empregos são ocupações altamente qualificadas, em comparação com 27% na economia em geral, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho. Recentemente, empresas do setor das energias renováveis apontaram a escassez de trabalhadores e de competências específicas, face ao forte crescimento da procura no setor de energia.

De acordo com a AIE, apesar de uma oferta crescente de cursos e de graduados das áreas das ciências, tecnologia, engenharia e matemática (em inglês STEM fields), a tendência deste crescimento permanece inferior à da procura pelo setor energético.

Deve notar-se que investir no desenvolvimento de mão-de-obra local qualificada é crucial para todas as regiões do globo, já que a maioria dos empregos no setor de energia está ligada à localização dos projetos. É importante destacar que cerca de 60% desses postos de trabalho não podem ser terceirizados para outros países. Urge que governos e empresas invistam em programas de treino, formação e capacitação para atender às necessidades específicas da transição energética.

A criação de redes de especialistas em energia renovável também é importante para compartilhar conhecimento e melhores práticas. Nesta linha, é de destacar o trabalho meritório desenvolvido pela Associação Portuguesa da Energia que, em 2021, replicando uma iniciativa do World Energy Council, implementou o programa Future Energy Leaders Portugal, contribuindo para uma nova geração de profissionais dirigentes altamente competentes, qualificados e motivados, habilitados a assegurar uma transição energética segura, equitativa e sustentável.

Nas frentes mais focadas na formação de técnicos operacionais, há iniciativas a fazer caminho, destacando-se o programa empresarial PRO_MOV desenvolvido pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e contando com mais de setenta empresas que criou vários laboratórios sectoriais entre elas o Green Jobs envolvendo agentes do sector energético e visando quer a capacitação para o primeiro emprego, quer a requalificação para novas carreiras. Em fase de instalação está, também, o Centro de Formação para a Transição Energética, localizado em Santiago do Cacem e criado por protocolo entre a APREN, a ADENE e o IEFP.

Pensar iniciativas que garantam o desenvolvimento profissional e assegurem mão de obra para a transição energética é um esforço coletivo. Os exemplos aqui citados contribuem para este objetivo e assinalam a importância de se estabelecer parcerias para que se garantam profissionais para este setor em grande crescimento.

Referências

[1] IEA, Total employment by sector, 2019-2023, IEA, Paris, www.iea.org/data-and-statistics/charts/total-employment-by-sector-2019-2023, IEA. Licence: CC BY 4.0

Flávia Lima

FELPT – Future Energy Leaders Portugal
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