As regiões da Galiza e de Portugal dispõem de vastas áreas de terra dedicadas à silvicultura e ao uso agrícola, gerando uma elevada quantidade de resíduos, cuja gestão, longe de gerar lucro, implica um custo para o produtor. Exemplo disso é o setor vitivinícola, fundamental na economia da Galiza e do norte de Portugal graças, sobretudo, ao clima e a outras condições ótimas, como o solo destes países. A crescente utilização da biomassa permitiu que os restos de poda deste setor que, até há pouco tempo, eram considerados um problema para o produtor, se tornassem um recurso valioso quando se trata de produzir biocombustíveis sólidos sob a forma de peletes, briquetes ou estilha. Assim, a valorização e utilização da biomassa é uma oportunidade estratégica para o crescimento e desenvolvimento sustentável a nível económico, tecnológico, social e ambiental no território transfronteiriço.
A necessidade de potenciar este recurso foi detetada nas agendas europeias desde o período 2017-2020 como uma das linhas de intervenção prioritárias para o crescimento e desenvolvimento sustentável do território, e o atual contexto geopolítico e energético global confere-lhe uma maior relevância.
Neste contexto nasceu o projeto Biomassa-AP (2017-2020), que permitiu ao consórcio melhorar as suas capacidades de investigação e aumentar o conhecimento sobre as soluções propostas para potenciar a utilização da biomassa não valorizada de elevado potencial como recurso estratégico. Especificamente foram estudados restos de poda de kiwi, videira, coníferas e matagal. As principais tarefas realizadas consistiram na caraterização da biomassa, na otimização dos sistemas de recolha, na densificação e agregação de aditivos e na obtenção de novos biocombustíveis melhorados e na sua valorização energética através de ensaios de combustão, gaseificação e microcogeração. Além disso, no decurso do projeto foi criada uma Rede Transfronteiriça de biomassa com o objetivo de ligar diferentes stakeholders do setor (especialistas na área, agentes interessados na produção e utilização de biomassa, fabricantes de máquinas agroflorestais, tecnologias energéticas, entre outros), que conta com mais de 130 membros de cerca de 90 entidades diferentes.
Para aproveitar o conhecimento e os resultados derivados da experiência obtida no projeto Biomassa-AP, nasceu o projeto “Biomasa CAP: capitalização das capacidades de I+D na utilização energética de biomassa não recuperada de elevado potencial”, cujo principal objetivo é aumentar a visibilidade e perceção da biomassa não valorizada, mas de elevado potencial, como recurso estratégico para o crescimento e desenvolvimento económico, tecnológico, social, ambiental e sustentável no território transfronteiriço Galiza – norte de Portugal.
O projeto Biomasa CAP é cofinanciada pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do Programa Interreg V-A Espanha-Portugal (POCTEP) 2014-2020. O projeto é liderado pelo Centro Tecnológico EnergyLab, e conta com a Fundação Empresarial-Universitária Galega (FEUGA), o Grupo de Tecnologia Energética da Universidade de Vigo, o Instituto Energético da Galiza (INEGA), o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) e o Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI), como parceiros.
As ações de capitalização que estão a ser realizadas no projeto visam promover a melhoria da competitividade do tecido produtivo na área transfronteiriça, uma vez que é nestes territórios que se localizam as explorações agroflorestais geradoras de biomassa não valorizada. Para o efeito foi elaborado um plano de ações que visam a capitalização dos resultados obtidos no projeto Biomassa-AP, que incluem: ações que visem a revitalização da Rede Transfronteiriça de Biomassa, a formação e sensibilização das entidades integradas na cadeia de valor da biomassa, agentes do ecossistema de I+D, jovens e população em geral, bem como a implementação de ações que promovam o diálogo e a comunicação entre entidades políticas, agentes do ecossistema de I+D e produtores, transformadores e indústria que permita o uso da biomassa como recurso energético.
Assim, o projeto Biomasa CAP responde ao desafio de promover a utilização dos recursos naturais disponíveis para a Eurorregião, que têm grande potencial relacionado com a geração de energias renováveis, especialmente a biomassa como recurso endógeno. Além disso, ao promover uma economia verde e a geração de conhecimento, responde também aos desafios colocados na União Europeia relativamente à necessidade de promover um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, que contribua para a consecução de uma maior coesão económica, social e territorial.
Géssika Morgado
Engenheira de Desenvolvimento
Unidade de Energia do Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI).
Outros artigos relacionados
- Artigo “Finalização do projeto “Valorização energética da biomassa vegetal em São Tomé e Princípe”” presente na renováveis magazine;
- Artigo “valorização de subprodutos agroflorestais, de resíduo a recurso energético sustentável e de elevado potencial” da edição 43 da renováveis magazine;
Fonte da imagem: Agroportal
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