renováveis magazine

biomassa

Biomassa

A biomassa é considerada uma fonte de energia renovável e, como tal, contribui para o combate às alterações climáticas através da redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE). A sua utilização para aquecimento, produção de eletricidade e em combustíveis para os transportes (biocombustíveis), diversifica o abastecimento energético, criando crescimento económico e emprego. Para que a sua contribuição seja eficaz, a produção de biomassa tem de ser sustentável.

Mas vamos conhecer um pouco melhor esta fonte de energia renovável, com foco na sua importância para o mix energético de Portugal?

O que é a biomassa?

A biomassa e uma matéria proveniente de materiais orgânicos, como as árvores, plantas, resíduos agrícolas e urbanos. A sua produção envolve uma cadeia de atividades que vai desde a produção de matérias-primas até à conversão final em energia.

São várias as origens de biomassa que são usadas para produzir energia. Destacamos os resíduos florestais e das indústrias da fileira florestal, os resíduos agrícolas e das indústrias agroalimentares e seus efluentes, a matéria de excreta animal proveniente da pecuária, a fração biodegradável dos resíduos sólidos urbanos, os esgotos urbanos e as chamadas culturas energéticas.

Panorama da biomassa em Portugal

A biomassa assume grande importância no mix energético do país nas mais variadas vertentes de consumo.

a) na produção doméstica

Os recursos energéticos endógenos de Portugal assentam quase na sua totalidade nas fontes de energias renováveis, sendo a biomassa uma das componentes com maior representatividade (Figura 1).

Contributo da biomassa na produção doméstica de energia.
Figura 1. Contributo da biomassa na produção doméstica de energia. Fonte: DGEG, Balanço Sintético 2023.

Estão incluídas as lenhas e resíduos vegetais, resíduos sólidos urbanos, licores sulfitivos, biogás, biocombustíveis e outros renováveis. Entre 2014 e 2023, a produção doméstica de biomassa cresceu 4,9%. Apesar deste crescimento, perdeu uma boa parte da sua representatividade, atingindo em 2023 o valor mínimo da década.

O peso da produção doméstica desta fonte de energia renovável, no total da produção, será tanto menor quanto maior for a produção direta de eletricidade renovável.

Nas trocas comerciais de biomassa com o exterior, Portugal apresenta um saldo importador negativo no que respeita as lenhas e resíduos vegetais, isto é, exportamos mais do que importamos. Por outro lado, apresentamos um saldo importador positivo nos biocombustíveis (importamos mais do que exportamos).

b) no consumo de energia primária

O peso da biomassa no consumo de energia primária tem aumentado gradualmente, conforme pode ser observado na Figura 2.

Contributo da biomassa no consumo de energia primária

Figura 2.
Contributo da biomassa no consumo de energia primária. Fonte: DGEG, Balanço Sintético 2023.

O consumo de energia primária corresponde a toda a energia existente antes de ser transformada noutra forma de energia, como é o caso da biomassa: parte do consumo das lenhas e resíduos vegetais e do biogás destinam-se à cogeração e à produção de eletricidade em centrais dedicadas. No caso dos biocombustíveis, o seu consumo é quase todo aplicado na incorporação de combustíveis fósseis. Por outro lado, a biomassa que não é convertida noutra forma de energia, vai diretamente para consumo final.

Na década em análise, o consumo cresceu cerca de 15,3%. Quanto mais alta for a quota da biomassa no consumo de energia primária, maior será o seu contributo para a redução da dependência energética do país e para a descarbonização da economia. De notar que apesar da queima implicar emissões de GEE, consideram-se as emissões como neutras pois o CO2 emitido aquando da queima foi o CO2 absorvido durante o processo de crescimento da mesma.

c) no consumo final

Observando a Figura 3, verificamos que, na última década, o peso da biomassa no consumo final de energia (energia efetivamente consumida/adquirida pelos consumidores) oscilou entre 6 e 6,9%. É um valor baixo, contudo, relembramos que parte da biomassa foi transformada em eletricidade renovável e utilizada em sistemas de cogeração renovável, que também geram eletricidade e energia térmica sob a forma de calor.

Peso da biomassa no consumo final de energia.
Figura 3. Peso da biomassa no consumo final de energia. Fonte: DGEG, Balanço Sintético 2023.

Os setores de atividade mais consumidores de biomassa são o doméstico e o industrial conforme se pode observar na Figura 4. Ambos os setores são responsáveis por mais de 95% do consumo desta fonte de energia renovável, sendo o setor doméstico, de longe, o mais relevante.

Principais setores de atividade no consumo final de biomassa
Figura 4. Principais setores de atividade no consumo final de biomassa. Fonte: DGEG, Balanço Sintético 2023.

No setor doméstico, a biomassa é totalmente usada para aquecimento (lareiras, salamandras, fornos, entre outros). Na indústria, esta é utilizada na geração de vapor, produção de águas quentes e de ar quente, sendo os principais polos de consumo os subsetores das indústrias do papel e artigos de papel, da madeira e artigos de madeira e da alimentação, bebidas e tabaco.

d) na produção de eletricidade

No que respeita à utilização da biomassa para produção de energia elétrica, a capacidade instalada apresenta pouca variação na década e está a perder gradualmente a sua representatividade no total da potência instalada renovável conforme se pode observar nas Figuras 5 e 6.

 Potência instalada da biomassa
Figura 5. Potência instalada da biomassa. Fonte: DGEG, Estatísticas Rápidas das Renováveis, junho 2024.

Os valores das potências indicadas na figura acima incluem as centrais com e sem cogeração, resíduos sólidos urbanos e biogás. A potência instalada em biomassa tem-se mantido estável ao longo dos anos, tendo crescido apenas 133 MW em dez anos.

Potência instalada da biomassa/potência total instalada renovável
Figura 6. Potência instalada da biomassa/potência total instalada renovável. Fonte: DGEG, Estatísticas Rápidas das Renováveis, junho 2024.

A perda gradual da quota no total da potência instalada renovável deve-se ao forte aumento do solar fotovoltaico ocorrido sobretudo nos anos mais recentes.

Em termos geográficos, e no continente, mais de 60% da potência instalada encontra-se na região centro, seguindo-se a região de Lisboa com valores superiores a 20% e a região norte com valores na ordem dos 14%.

A revisão do Plano Nacional Energia e Clima (PNEC 2030) perspetiva para 2030 uma capacidade instalada de 1300 MW para a biomassa (mais 400 MW em relação à atual capacidade instalada), o que significa que, nessa altura, representará 3% da capacidade total instalada de origem renovável.

e) no abastecimento do consumo de energia elétrica

Na Figura 7 podemos observar o contributo da biomassa no abastecimento do consumo de energia elétrica de origem renovável em Portugal continental (mais de 98% da potência instalada localiza-se no território continental).

Contributo da biomassa no abastecimento do consumo de energia elétrica em Portugal Continental
Figura 7. Contributo da biomassa no abastecimento do consumo de energia elétrica em Portugal Continental. Fonte: REN.

Apesar do futuro aumento da potência instalada, não se perspetiva um aumento da contribuição da biomassa no mix total devido ao aumento de outras fontes renováveis, particularmente de solar fotovoltaico. As quotas apresentadas na Figura 7 incluem a eletricidade produzida nas cogerações e são oriundas da biomassa florestal, biogás e a fração biodegradável dos resíduos sólidos urbanos.

É importante referir que, de 2014 até 2018, a eletricidade produzida pelas cogerações representava mais de 52% do total produzido pela biomassa. A partir daí, o grosso da produção de energia elétrica passou a ser das centrais dedicadas. Em 2023, estas centrais foram responsáveis por 60% da produção.

Concluímos, afirmando a importância da utilização da biomassa para fins energéticos quando usada de forma equilibrada e sustentada. O uso correto desta fonte de energia renovável é fundamental para atingirmos a neutralidade carbónica em 2050. Justamente pela sua importância, a revisão do PNEC 2030 que em breve será aprovada, consagra, nas suas diversas dimensões, várias linhas de atuação e medidas de ação dedicadas à biomassa de forma cuidada e integrada.

António Almeida
Técnico Especialista da Direção de Formação, Informação e Educação
ADENE – Agência para a Energia

Fonte da imagem de destaque: Freepik