O que podem fazer drones e imagens de satélite pelas alterações climáticas? A ligação não é evidente mas é a chave para um modelo computacional e, mais tarde, um mapa com a quantidade estimada de biomassa acima do solo e de carbono retido nos 14 principais sapais da Área de Cooperação Galiza-Norte de Portugal. O trabalho está a ser realizado no âmbito do projeto CAPTA: Neutralidade Carbónica: o papel do Carbono Azul na costa de Portugal e da Galiza, no qual participam investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).
Os investigadores Ana Bio e Manuel Meyer estão a guardar plantas secas em sacos do lixo, numa coleção de 275 amostras de 5 espécies recolhidas no estuário do Rio Lima em Viana do Castelo, e que irá ajudar a quantificar o carbono que os sapais (zonas periodicamente alagadas por água salobra e cobertas por vegetação capaz de suportar a salinidade) armazenam ao longo de toda a costa norte de Portugal.
Como estas zonas são territórios de transição entre a terra e o oceano dependem de um equilíbrio frágil entre o nível do mar e a sedimentação. “Se estes ecossistemas, chamados de ecossistemas de carbono azul, em inglês, Blue Carbon Ecossistems (BCEs), forem destruídos por ação humana ou por ação natural, esse carbono vai ser todo libertado de volta para a atmosfera.” O alerta, suficiente para captar a nossa atenção, é de Manuel Meyer, estudante de doutoramento em Engenharia Geográfica da FCUP, que explica que estão a usar imagens de drones e de satélites para mapear o carbono azul que está fixado nos sapais, no solo e na vegetação, e pretendem saber o peso seco desta biomassa
Em setembro de 2024, o drone da equipa portuguesa recolheu imagens do estuário do rio Lima, e juntamente com os parceiros espanhóis no projeto, fizeram o mesmo nos sapais de Ramallosa e Betanzos na Galiza. Depois desta recolha do drone, os cientistas portugueses marcaram os pontos mais importantes para a colheria da vegetação com uma antena que utiliza o sistema global de navegação por satélite, para que os locais onde as amostras foram recolhidas, fiquem registados.
Como os cientistas pretendem estimar o carbono que a vegetação acima do solo consegue armazenar, a água que as plantas acumulam é uma variável não desejada. Antes da secagem, a biomassa pode variar de um dia para o outro, e por isso a etapa da secagem e da pesagem das amostras pode fornecer dados que podem ser relacionados com outros associados aos locais de colheita das plantas e isso irá permitir a criação de um modelo computacional capaz de estimar a quantidade de biomassa presente no sapal. E assim, os cientistas conseguem estudar o algoritmo de classificação das imagens de satélite para que este possa estimar automaticamente a biomassa dos restantes sapais onde não foi realizado trabalho de campo.
A FCUP é responsável pela coordenação da atividade do projeto centrada na avaliação dos fluxos de CO2 nas zonas costeiras, com especial atenção aos ecossistemas de carbono azul e ao seu papel no sequestro de carbono. O objetivo é fazer um mapeamento dos BCEs da costa da Galiza e Portugal com base na utilização de imagens de satélite e também uma estimativa dos reservatórios de carbono nestes locais.
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