Nos últimos 3 anos temos assistido a um incremento considerável da capacidade instalada de solar fotovoltaico em Portugal (Figura 1), com principal destaque em 2023 para a pequena e média escala (até 1 MW), a contabilizar o record de capacidade instalada anual de 746 MW.
Ainda que o ritmo de crescimento seja o adequado para atingir a meta deste segmento proposta na revisão do Plano de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) de junho de 2030, os números foram incentivados por vários fatores. Neste ponto, destacam-se o apoio do Fundo Ambiental, através do Plano de Recuperação e Resiliência; os preços médios do mercado diário ainda bastante acima dos valores pré-crise energética; o custo dos painéis fotovoltaicos a valores inferiores a 0,20 €/Wp; e a aplicação da taxa de IVA reduzido para a instalação de sistemas fotovoltaicos.
Em 2024, surgem novos desafios perante um cenário muito distinto do ano anterior. A falta de disponibilidade de rede será cada vez mais um obstáculo, aliada a um mercado cada vez menos adaptado à realidade das tecnologias variáveis. A grande diferença surge com a queda dos preços médios do mercado diário, nos primeiros meses do ano, com impacto significativo, principalmente para consumidores com tarifas indexadas, o que torna menos atrativo o prazo do retorno do investimento do autoconsumo ou comunidades de energia.

Nas horas do perfil de geração do solar fotovoltaico, os preços horários do mercado têm registado várias horas com valores muito baixos ou nulos, logo, para as unidades que vendem os excedentes através do comercializador, estes não têm valor, e podem ainda ser penalizados com a injeção devido aos desvios. Esta viragem, resulta de uma estabilização dos mercados após a crise energética, de um ano rico em geração renovável, mas sobretudo da falta de implementação e harmonização do mercado de flexibilidade previsto pelas diretivas europeias.
Entre janeiro e maio de 2024 a incorporação de geração renovável foi de 84,2% do total, principalmente devido a uma elevada produtibilidade hídrica e eólica. À medida que evoluímos para um sistema mais descarbonizado, e com elevada incorporação renovável, será cada vez mais necessário acelerar os mecanismos que permitem a deslocalização da geração para horas de maior necessidade de consumo, em vez, de reduzir ou cortar geração. O desfasamento entre as ofertas horárias e a procura de eletricidade, será cada vez mais uma realidade.
Apesar da flexibilidade existente no mercado nacional, devido à hídrica reversível, o sistema vai precisar de fortalecer a sua capacidade para responder a este desfasamento entre a oferta e a procura. Os mercados de flexibilidade terão um lugar central neste caminho, com os consumidores do lado da procura a terem um papel fundamental.
A resposta do lado da procura, ou seja, a gestão da utilização de energia pelos consumidores finais, precisa de ser incentivada, para permitir que possa ser alterada num momento específico ou num local específico. Os mercados de flexibilidade do lado da procura permitem aos consumidores normais e aos consumidores com autoconsumos e/ou integrados numa comunidade de energia participarem de forma agregada na oferta de serviços ao operador de rede, através da alteração do seu comportamento em tempo real, garantindo, assim, a resolução de congestionamentos na rede.
Susana Serôdio
APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis
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