Já este ano, só em maio, 67,4% de toda a eletricidade produzida em Portugal teve origem renovável – um aumento de 5,5% em termos homólogos. Esta realidade é, sem dúvida, positiva e preconiza um futuro risonho para as renováveis no nosso país. Temos, no entanto, de ter em conta que, tal como a energia de origem fóssil, a energia renovável também pode ser desperdiçada, e agir desde já para que tal não aconteça.
Será isto uma oportunidade?
A sólida inclusão das renováveis no nosso mix energético deve-se à combinação de uma potente produção de energia fotovoltaica e eólica. Quando os meses trazem sol, vento e temperaturas moderadas – como maio deste ano o demonstrou –, é possível registar um desempenho ótimo de ambas as tecnologias. Para além disso, nos últimos tempos registou-se também um aumento da nossa capacidade total de produção, tanto de grandes instalações como de sistemas de autoconsumo (como painéis solares nos telhados). Estes sistemas de autoconsumo não só alimentam a rede quando há um excedente de energia, como também reduzem a procura de eletricidade durante as horas de sol.
Uma das conclusões óbvias deste “momentum” que vivemos é que Portugal continua a dar grandes passos na direção de um futuro renovável. Não se trata de um momento pontual, como acontecia anteriormente, mas sim de um sinal de uma mudança estrutural. A adoção massiva de energias renováveis, especialmente a fotovoltaica, permite-nos cobrir cada vez mais as nossas necessidades de eletricidade com fontes limpas. Isto não só reduz a nossa pegada de carbono, como também exerce pressão no sentido da baixa sobre os preços da eletricidade durante o dia.
Para além disso, representa também um incentivo ambiental e económico para investir no armazenamento de energia e promover a eletrificação dos transportes, da indústria e do aquecimento, que atualmente dependem em grande medida dos combustíveis fósseis.
No entanto, para continuarmos nesta direção, temos de ser capazes de acelerar as melhorias em algumas áreas, para que façamos a melhor utilização possível da energia excedentária. A evolução futura deste cenário dependerá de muitos fatores, mas estes serão certamente alguns deles:
- É necessário acelerar a eletrificação a todos os níveis e em todos os segmentos, tirando partido da energia limpa e competitiva que podemos gerar no nosso território graças à nossa localização privilegiada;
- A gestão de energia em edifícios e infraestruturas com tecnologia de microgrids será comum neste novo cenário, e também a forma mais eficaz de minimizar as incertezas energéticas e ganhar independência;
- É necessário alterar radicalmente o modelo de apoios, incentivando muito mais as tecnologias menos maduras, como é o caso do armazenamento;
- A implementação de baterias deve ser desenvolvida a todos os níveis, não só em grande escala na rede de distribuição ou de transporte, mas também “atrás do contador”, promovendo a figura do prosumer para aumentar a independência energética de todos os consumidores;
- Os excedentes da geração distribuída não vão ser remunerados no futuro como o são atualmente. Isto deve ser interpretado como uma oportunidade para o armazenamento e a flexibilidade, no sentido de conseguir uma gestão otimizada da nossa rede elétrica.
De qualquer forma, qualquer solução futura passará por uma abordagem muito mais colaborativa em todo o ecossistema, promovendo a criação de um mercado de energia muito mais flexível e uma cooperação muito mais estreita entre os produtores de energias renováveis, os operadores da rede e os consumidores de energia, onde todas as relações serão já bidirecionais. Estamos, portanto, a começar a vislumbrar um sistema elétrico baseado na produção renovável (o objetivo é que esta atinja os 80% do total produzido em 2025). Portugal encontra-se num momento de grande oportunidade para continuar a desenvolver a sua capacidade renovável – tendo já antecipado o seu objetivo em cinco anos, de 2030 para 2025 – e, ao mesmo tempo, implementar estratégias que tirem o máximo partido desta transição para um mix energético mais sustentável.
Jordi García
Digital Energy & Power Products VP, Iberian Zone,
Schneider Electric
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