Embora associemos o armazenamento de energia a descobertas relativamente recentes, como as baterias de lítio ou as baterias de estado sólido, a primeira forma de armazenamento de energia conhecida encontra-se em Bagdad e data do século II a.C. No entanto, acredita-se que esta não tenha sido uma forma intencional de armazenamento, mas sim um produto indireto de um processo realizado para fins medicinais.
Neste processo ocorria uma fermentação que conduziria ao armazenamento de energia. Os fatores que permitiram a criação de uma bateria primária foram: a existência de uma tampa de um material semelhante a asfalto e, no interior, um tubo envolto em folha de cobre, que estava ligado a um disco de cobre na extremidade superior. Uma haste muito fina de ferro estava fixada à tampa inferior e passava pelo centro do tubo de cobre, sem tocar nas suas paredes. Deste modo, a fermentação dentro do pote permitia passagem de eletrões to tubo de cobre para o ferro quando os dois metais estivessem ligados, criando assim uma bateria que gerava aproximadamente 1,5 V (1).
A primeira intenção de armazenar energia concretizou-se anos mais tarde, através de uma experiência realizada por Alessandro Volta, em 1800. Através da sobreposição de discos de zinco e prata, separados por um papel embebido em água salgada, Volta consegue produzir aquela que é conhecida como a primeira bateria (2). Contudo, a uma escala de utility, o primeiro projeto tem início em 1907, na Suíça, com a construção da primeira barragem hidroelétrica com sistema de bombagem (3).
Atualmente, existem diversas tecnologias de armazenamento de energia que se foram desenvolvendo ao longo dos anos, tendo as mesmas sido agrupadas segundo as seguintes classificações: térmica, mecânica, química, eletroquímica, elétrica, entre outras de menor relevância. Em cada classe existem diversas tecnologias, as principais, de acordo com a capacidade mundial instalada, que se encontram por ordem de magnitude na Tabela 1.
Tipo de Armazenamento | Tecnologia | Capacidade Instalada Global (%) | Densidade Energética Gravimétrica (Wh/kg) | Densidade Energética Volumétrica (Wh/m³) | Capital Cost (€/Wh) | LCOE (€/MWh) | Tendência de Custo Projetada |
Mecânico | Armazenamento Hidroelétrico por Bombagem (PHS) | 90% | 0,5 – 1,5 | 500 – 2000 | 0,20 – 0,25 | 50 – 150 | Estável, com pequenas reduções ao longo do tempo |
Mecânico | Armazenamento de Energia por Ar Comprimido (CAES) | <1% | 2 – 6 | 3000 – 6000 | 0,15 –0,20 | 100 – 150 | Redução potencial de 20% até 2030 |
Eletroquímico | Baterias de Iões de Lítio | 8% | 150 – 300 | 200 000 – 700 000 | 0,10 – 0,15 | 250 – 400 | \Redução esperada de 40% até 2030 |
Eletroquímico | Baterias de Fluxo | <1% | 10 – 50 | 20 000 – 70 000 | 0,20 – 0,30 | 150 – 300 | Redução projetada de 30% até 2030 |
Térmico | Armazenamento Térmico de Energia (TES) | 1-2% | 50 – 200 | 70 000 – 150 000 | 0,05 – 0,10 | 10 – 60 | Estável, com pequenas reduções possíveis |
Químico | Armazenamento de Hidrogénio | <1% | 33 300 (teórico) | 500.000 (gás a 700 bar) – 2 350 000 (líquido) | 0,20 – 0,30 | 200 – 400 | Dimuição com R&D |
A determinação da tecnologia a utilizar nos diferentes contextos depende de vários parâmetros. No caso particular da rede elétrica e, por exemplo, das entidades intervenientes nos mercados energéticos envolvidas na estabilização da mesma, para além dos dados supramencionados na tabela, tanto o tempo de descarga como a respectiva potência são variáveis essenciais para que estas entidades possam selecionar as tecnologias mais adequadas para oferecer uma solução à rede.

Estes pontos têm ganho uma relevância cada vez maior, pela mudança de paradigma das últimas décadas onde o crescimento exponencial de produção de energia através de fontes renováveis tem conduzido a novos desafios. A variabilidade associada a este tipo de produção energética, seja por falta ou por excesso, cria no sistema instabilidade, que necessita de ser compensada recorrendo a diferentes tecnologias. Na Figura 1 é possível visualizar as várias tecnologias e entender como através de duas variáveis tempo de descarga e potência – estabelece-se uma relação entre as necessidades, identificadas no gráfico da direita, e posicionamento das tecnologias, no gráfico da esquerda.
Guilherme Marques
Future Energy Leaders Portugal / Associação Portuguesa da Energia
Para ler o artigo completo faça a subscrição da revista e obtenha gratuitamente o link de download da “renováveis magazine” nº60. Pode também solicitar apenas este artigo através do email: a.pereira@cie-comunicacao.pt
Outros artigos relacionados
- Artigo “Armazenamento de energia” da edição 54 da Renováveis Magazine;
- Artigo “A importância do armazenamento na transição energética” da edição 54 da Renováveis Magazine;
- Artigo “Armazenamento de energia: a trajetória de implementação europeia e as ambições nacionais” da edição 54 da Renováveis Magazine;
VOCÊ PODE GOSTAR
-
Incentivos e biometano, o casamento perfeito para um futuro sustentável
-
PRR + PNEC em Portugal rumo à descarbonização
-
Aproveitamento de geotermia em Portugal Continental – dois casos de sucesso
-
Descarbonização industrial e hidrogénio verde
-
Catalisador da transição energética e inovação tecnológica na Europa